Cinzas da Fé - Prelúdio parte 3 de 6

Descendo da Praça do Mártir, onde as sombras dançavam ao som dos suspiros agonizantes da colmeia, iniciei minha jornada rumo às profundezas esquecidas do antigo templo. Cada passo ecoava nos corredores sombrios, como se as próprias paredes sussurrassem segredos antigos e esquecidos. A atmosfera era pesada, impregnada com a essência de uma decadência que havia se infiltrado nas pedras gastas e nas vigas desmoronando.

À medida que me aventurei pelas catacumbas esquecidas, a escuridão era quase palpável, envolvendo-me como um manto sombrio. Os sons da superfície desvaneceram-se gradualmente, substituídos pelos murmúrios dos perdidos e rejeitados que encontravam refúgio nas profundezas. O cheiro de mofo e decadência impregnava o ar, uma mistura inebriante de desespero e um instinto de sobrevivência dos mais primitivos.

Os habitantes das catacumbas, a escória esquecida pela luz da civilização, observaram-me com olhos desconfiados enquanto adentrava seu domínio subterrâneo. O medo, como um gotejar constante, marcava o ritmo daquele ambiente desolado. Homens e mulheres enlameados e esfarrapados, com olhares que refletiam uma vida de rejeição, observavam minha chegada com cautela.

Eu, Babalon, uma estranha entre eles, ousei adentrar o território onde a humanidade era rejeitada como detrito humano. Meu propósito era incerto, mas a presença que emanava de mim, a ligação com algo além das sombras, começou a despertar uma curiosidade cautelosa. A resistência inicial logo cedeu à necessidade de aceitação, uma busca por um elo perdido que talvez encontrassem em minha presença.

À medida que os dias passavam nas catacumbas, comecei a compartilhar histórias e esperanças com aqueles que escolheram o exílio nas profundezas. As palavras, um bálsamo para almas cansadas, encontravam ressonância nos corações rejeitados pela sociedade acima. Lentamente, a desconfiança cedeu lugar a uma aceitação tímida, e um murmúrio de reconhecimento começou a se espalhar pelas sombras.

Um título emergiu da língua esquecida daqueles esquecidos - "Baba", uma palavra que transcendia o significado comum de mãe. Era um termo que carregava consigo não apenas a maternidade, mas também a promessa de proteção e acolhimento. Eu, Babalon, tornara-me Baba, a mãe das catacumbas, uma figura que trouxe uma faísca de humanidade para aqueles que haviam sido relegados à penumbra. Ali se iniciou minha metamorfose, como um casulo eles me cercaram, enquanto eu crescia para a minha forma final. 

Em poucas semanas, e o vínculo entre nós se fortaleceu. Eles, que antes eram estranhos desconfiados, tornaram-se uma comunidade unida ao meu redor sob a sombra das torres da colmeia. Cada passo naquelas catacumbas ressoava com o nome "Baba", um sussurro de gratidão e respeito que flutuava no ar.

A aceitação, embora conquistada a duras penas, era um testemunho da força da ligação entre os excluídos. A chama da esperança, antes quase extinta, agora brilhava como uma luz tênue nas profundezas daquele santuário esquecido. Em meio às sombras, eu, Baba, tornara-me a mãe de almas perdidas, guiando-as com uma promessa de acolhimento através das trevas implacáveis da colmeia. 

Foi quando em meus sonhos e devaneios, comecei a receber uma visita do além.



No abismo insondável nas produndezas de Carceroth


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